Portal de Eventos Científicos em Música, 5º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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“Presas de elefante arranjadas para soar”. A iconografia como fonte de informação sobre a incorporação das cornetas africanas de marfim em coleções europeias. (séculos XVI e XVII)
René Lommez Gomes

Última alteração: 2020-04-11

Resumo


Ao lado dos tecidos de ráfia, cornetas, saleiros, braceletes e píxides talhados em marfim de elefante estão entre os objetos africanos mais cobiçados por colecionadores de curiosidades da Europa, entre os séculos XVI e XVII. Incorporados em gabinetes, studioli e em outros espaços de acondicionamento de coleções, estes objetos suscitavam especulações sobre sua proveniência e usos entre as sociedades que os criavam, se convertendo em elementos que presentificavam e transportavam conhecimentos sobre culturas africanas para o interior dos ambientes letrados da modernidade europeia.

No processo de documentação de coleções que incluíam estes itens, algumas cornetas ganharam tratamento especial, sendo registradas em desenhos e gravuras. As imagens que documentaram cornetas africanas das coleções dos Medici, de Juan Vicencio Juan de Lastanosa e de Manfredo Settala, ao lado da representação de uma corneta de marfim incluída em uma ilustração do tratato Syntagma musicum: Theatrum Instrumentorum, de Michael Praetorius, são exemplos destas imagens produzidas por demanda de seus proprietários europeus. Nestas imagens, além do aspecto visível dos objetos, também foram incluídas informações textuais sobre suas dimensões, origem, procedência e usos. Em cada uma destas situações, as imagens apresentam uma forma distinta de incorporação das cornetas africanas nas coleções, por meio de categorias que as convertem ora em exemplares de instrumentos musicais que traduzem uma cultura africana, ora me evidência da antiguidade dos povos ão-europeus, às vezes como índice de comparação entre a produção material dos povos das das quatro partes do mundo.

Esta comunicação tem como objetivo abordar a iconografia das cornetas africanas feitas em marfim, produzida no contexto de sua incorporação em coleções europeias, procurando demonstrar seu uso potencial pelos pesquisadores como fontes de informação sobre a forma como os colecionadores europeus perceberam e documentaram estes instrumentos musicais. Contratadas com fontes textuais e iconográficas coevas que registram os usos das cornetas em várias regiões da África, esta iconografia também será interrogada como registro das transformações sofridas pelos instrumentos musicais de marfim ao serem deslocados de seus contextos culturais originais para serem inseridos em outros sistemas de uso e apropriação da cultura material, representado pelas coleções.


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