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Música e política: a criação de elementos musicais no espaço urbano da cidade de São Paulo durante a Primeira República (1889-1930)
Rafael de Abreu Ribeiro

Última alteração: 2017-05-31

Resumo


Este paper relaciona o uso da cidade de São Paulo como um espaço manipulável à música tocada durante a Primeira República. A Câmara Municipal de São Paulo, no uso de suas atribuições, criou normas como leis, atos e resoluções para adornar a cidade com elementos musicais. Entre esses adornos, encontram-se o Theatro Municipal, a estátua de Carlos Gomes (1836-1896) e a estátua de Giuseppe Verdi (1813-1901). Há referências ao projeto da estátua de Carlos Gomes desde 1908. Apesar de a arrecadação de fundos para sua construção iniciar-se em 1910, sua inauguração só concretizou-se em 1922 com auxílio da Câmara Municipal de São Paulo. A estátua de Giuseppe Verdi teve um destino quase semelhante: a autorização para sua construção foi outorgada em 1915; sua inauguração, porém, só ocorreu em 1921. Além das estátuas, que são patrimônios materiais e integram o inventário de obras de artes em logradouro público da cidade de São Paulo, convém destacar o patrimônio imaterial: a nomenclatura das vias públicas da cidade. Esta atividade, chamada de toponímia municipal, era uma prática exclusiva dos próprios moradores durante a época do Império. Frequentemente os nomes faziam alusão aos moradores daquela via ou a alguma edificação memorável daquele local, como a Praça da Sé. Ao instaurar a República, os governantes aboliram a nomenclatura proferida por cidadãos e adotaram a prática de homenagear grandes figuras de seu tempo, tais como Marechal Floriano Peixoto, Marechal Deodoro da Fonseca, e datas comemorativas nacionais, como 7 de setembro e 15 de novembro. Porém, ao longo da Primeira República, quatro logradouros foram nomeados em homenagem a músicos que tiveram alguma ligação com São Paulo. São eles a Praça Carlos Gomes, a Rua Maestro Elias Lobo, a Rua Maestro Chiaffarelli e Rua Alexandre Levy. As circunstâncias em que cada rua foi nomeada são peculiares e ilustram bem como a música fazia parte das discussões na Câmara Municipal de São Paulo, ainda que de modo oblíquo. A análise da documentação publicada pela Câmara Municipal conseguiu trazer à tona vários questionamentos sobre como os governantes da cidade abordavam a música durante a Primeira República. Entre as reflexões, destaca-se que a atividade musical não estava na lista de prioridades, mas possuía seu lugar; a reforma do espaço urbano já era vista como necessária para embelezar a cidade, e o uso de elementos musicais, tais como o Teatro Municipal e as referidas estátuas, reforçavam a noção de cultura e intelectualidade que os habitantes queriam imprimir. O modelo francês de belle époque fora escolhido propositadamente e a música fora uma das referências mais importantes da ligação entre política e artes na cidade de São Paulo durante a Primeira República.


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