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A linguagem da performance ritual indígena na tradição nordeste
André Luis Oliveira Pereira de Souza

Última alteração: 2018-07-30

Resumo


A epistemodiversidade do mundo também inscreve a ecologia da mente enquanto a troca de informações entre as forças bióticas e abióticas da terra, mediadas pela tecnologia em interconeção mutativa. Os "padrões que ligam" (Gregory Bateson,1904-1980) e os "tramas que conectam" (Massimo Canevacci, 2001) reproduzem sistemas de conhecimento e expressão de elevada complexidade. A etnomusicologia da musicalidade indígena, não só revela a estrutura sequencial da performance musical, (aculturação didática) mas outras interconeções corporais. Entre os elementos coreográficos da dança, destacamos as catabióticas referentes à terra, a materialidade, o gosto pelo peso do corpo, ou a acrobática, que lança o corpo no ar, exprimindo a liberdade, onde os diversos movimentos (repetição, aumentação, diminuição, transposição e retrogradação) mantém as características originais. Os índios Pankararé situam-se entre o Raso da Catarina e o Rio do São Francisco e apresentam uma riqueza de sonoridades multiforme nos seus rituais, através da voz e do canto, do movimento corporal e de outros adereços relacionados. O sentido de totalidade da iconografia destes momentos rituais, a riqueza de artefatos arqueológicos afirmam a presença humana e das múltiplas culturas que se formaram ao longo do rio. A música dos rituais Panakararé ancora cronologias e rege os ciclos e estações através de um calendário e cosmogonia musical-ritual. Mas a sonoridade da música indígena inclui motivos pictóricos e artesanais como a cestaria, entendidos como elementos de tradução ou transcrição das partituras musicais. As históricas perseguições, as políticas de sujeição e controle das culturas ameríndias implicou êxodos territoriais. A construção da barragem de Paulo Afonso e Itaparica tornaram o Toré e a Jurema elementos indentitários de resistência, assim o território apresenta-se como um campo de trocas intersemióticas, onde as artes e as articidades tecem e atualizam os modos de ser da sociedade indígena. Assim articulam aspectos políticos, espaciais e performáticos do cotidiano com as suas representações, gerando uma intertextualidade audiovisual e fonográfica. A paisagem sonora indígena compõe-se de um conjunto de saberes presentes em sua linguagem e musicalidade. O ritual do praiá Pankararé envolve todas as cosmovisões da comunidade e pode ser entendido como um campo semântico da expressividade desses povos que evoca semelhanças com as ecologias sonoras e imagéticas de outras sociedades indígenas das Terras Baixas da América do Sul. Nesta perspectiva mapeamos as cadeias semióticas do  praiá e do toré aproximando elementos da dança coletiva, canto coral, cachimbos, chocalhos, penas, palhas, flautas, entorno acústico e geográfico, numa trama sinestésica convocando à trans-corporeidade da recepção a todos os  presentes.

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