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Sinestesia Constitutiva e Notação Musical: Questões sobre percepção e significado na representação gráfica da música
Eduardo Sola Chagas Lima

Última alteração: 2017-06-09

Resumo


Este artigo contempla o papel da sinestesia constitutiva no processo perceptivo de representações visuais de conceitos musicais, abordando questões de semântica e significado no sistema conceitual moderno, ocidental e mainstream da música. Mais especificamente, esta pesquisa explora o discurso musical como uma linguagem cristalizada, mas argumenta que a iconografia da notação musical engloba mais aspectos do que o simples código comum assumido entre um dado compositor e o músico que lê/interpreta a notação.

A sinestesia constitutiva, uma comunicação intensificada através dos sentidos, vem atraindo a atenção de estudiosos em várias disciplinas, mas a musicologia sistemática apenas começou a descobrir as implicações teóricas e práticas dessa condição neurológica na percepção e no processamento cognitivo da notação musical. A consistência e a automaticidade da sinestesia durante o desenvolvimento do cérebro da infância à idade adulta permitem ao sinesteta uma experiência única da notação musical que difere, em sua essência, do cérebro "normal". Por exemplo, a simples observação de um símbolo visual pode provocar cores, cheiros ou sentimentos táteis (para citar apenas alguns), além do esperado e generalizado significado da notação musical. Assim, o significado de um símbolo musical não pode ser tomado como um fim em si. Ao abordar percepções sinestésicas da notação musical de um ponto de vista fenomenológico, o presente ensaio tenta chegar a um modelo para este processo complexo, tal qual experienciado por sinestetas constitutivos, como o próprio autor. Portanto, embora esta pesquisa se concentre em maiores aplicabilidades deste modelo, ao passo que se baseia na literatura existente sobre o tema, ela também é amplamente informada pela minha própria experiência sinestésica da notação musical.

Finalmente, ao sugerir que a percepção da notação musical deve ser considerada como um processo empírico flexível e elástico, esta pesquisa volta-se para a própria questão da música como linguagem. Ela investiga e explora até que ponto esse código comum construído pode ser tomado como um sistema de notação de significado único, concluindo que a percepção depende de diferenças individuais, tais como a sinestesia constitutiva aqui discutida. Em outras palavras, o significado na notação musical - assim como qualquer outro tipo de linguagem visual cristalizada - transcende os conceitos construídos ao longo da história da música.

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