Portal de Eventos Científicos em Música, 5º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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Saudade: territórios para uma iconografia semio-musical.
Cleisson Melo

Última alteração: 2020-04-11

Resumo


Falar sobre saudade, por mais abstrato que possa parecer, poder ser uma tarefa muito complexa. Pesquisas conduzidas por pensadores como Eduardo Lourenço e Ramon Piñeiro, por exemplo, têm cada vez mais problematizado este complexo sentimento pelo viés filosófico, fomentando reflexões profundas sobre a essência, territorialização, identidade, fenômeno, dentre outros. 

Por outro lado, este sentimento amplamente paradoxo, dor e amor, sofrimento e prazer, traz à tona a universalidade deste, o que promove uma visão que vai além da trajetória do indivíduo para a sociedade. Dentro de uma visão luso-brasileira, aspectos valorativos do antagónico conceito da saudade, permite uma ponderação sobre a consciência reflexiva do tempo enquanto sentimento comum a diversas sociedades. Assim, a saudade como um "problema" na construção de um ethose sua capacidade evocativa, enquanto expressão de temporalidade, passa a ser ela mesma a expressão da realidade da ideia que ela própria representa. Então, a saudade como categoria sócio-existencial, vista como um ícone na formação do brasileiro (enquanto, ser social e individual), pode ser um ponto de partida para elucubrar entender a saudade como fenômeno capaz de criar uma iconografia própria. 

Almeida Junior (1850-1899), pintor e desenhista brasileiro, tinha uma forma bastante peculiar de lidar com a representação do nacional em suas obras, distanciando-se das alegorias românticas e aproximando-se do ser humano comum. Em sua obra intitulada Saudade, a representação deste sentimento (saudade) é apresentada através de um rico esquema compositivo, mostrando em detalhes o sofrimento e os sentimentos de uma mulher aparentemente simples. Com uma rica descrição do mundo visível, com evidências do abstrato de forma representativa, em sua obra O Violeiro(representação do canto saudoso, da seresta, das modas de viola, por exemplo), Almeida Junior  retrata um cotidiano de forma realista, tanto quanto em Saudade, mostrando de forma não estilizada ou ridicularizada da figura do homem do campo (caipira). O pintor foi o único artista plástico brasileiro a demonstrar esta realidade (nacional), principalmente do interior de São Paulo no século XIX. 

Através de uma conjectura com base na iconografia e semiótica, podemos notar a construção de entidade humana a partir de obras de Almeida Junior. Considerando a saudade supracitada, pretendo trazer um olhar iconográfico pelo viés semiótico da/na construção do processo saudoso onde a música se apresenta como territórios deste ícone luso-brasileiro. Para isso, proponho um entrelaçamento da semiótica e iconografia, que neste caso, faz-se necessário o uso da iconografia eventualmente não musical como suporte para uma discussão musical (iconografia correlata), possibilitando uma importante representação visual de problematização de aspectos abstratos.



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