Portal de Eventos Científicos em Música, 6º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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O Modo Lídio e o pentacorde com quarta aumentada como uso na música para cinema em situações de espaço sideral: escalas que representam a ausência de expectativa tonal
Ricardo Madureira Marques, Yara Caznok

Última alteração: 2022-02-24

Resumo


A partir da década de 80, principalmente após o sucesso de Star Wars conseguimos encontrar uma grande quantidade de filmes que utilizam de uma sonoridade específica para representar situações de espaço sideral, criando uma espécie de tradição em filmes espaciais. Tal sonoridade é a do pentacorde de quarta aumentada e o modo lídio. Tal uso tem fundamentos em elementos metafóricos da quarta aumentada no contexto escalar e harmônico no eixo da tradição de musica tonal ocidental, se relacionando diretamente com a ausência de gravidade.
A iconografia do pentacorde com quarta aumentada e o modo Lídio que simbolizam o espaço sideral também construíram sua tradição neste uso especialmente também pelo massivo sucesso de Star Wars. O filme e seu legado moldou as referências em espaço sideral no cinema em convergência com uma música apropriada e que desde então passou a representar a sonoridade dos filmes e situações espaciais. A principal referência musical para John Williams, compositor em Star Wars, é a suite The Planets (1914-1916) the Gustav Holst, que já enunciava um repertório extremamente modal e com um conceito muito claro de referenciação ao espaço sideral, como já sugere o título da suite e que certamente inspirou a sonoridade modal. Principalmente da quarta aumentada no modo maior em situações espaciais a partir de John Williams.
No presente trabalho abordaremos especificamente três filmes onde vemos a temática de espaço sideral e referências à ausência gravitacional. Podemos modelar uma cronologia dessa tradição iconográfica ao longo das décadas: o primeiro filme é Star Wars: O Império Contra-Ataca (1980) de George Lucas e o tema do Yoda, de John Williams. Em seguida, Wall-E  (2008) dirigido por Andrew Stanton com a música Define Dancing de Thomas Newman. Por último o filme Interstellar (2014), de Christopher Nolan com a música Dust, de Hans Zimmer.

É importante contextualizar o papel do modo Lídio como ferramenta composicional nas músicas cinematográficas em situações de espaço sideral no que diz respeito às suas múltiplas características e correlações possíveis com a espacialidade, com o tonalismo e principalmente com o modalismo. O modo Lídio pode ser uma escala que é subordinada ao sistema tonal como encontramos em muitas obras de música tradicional em diversos gêneros musicais, entretanto o foco desta pesquisa visa contemplar o modo Lídio como protagonista.

Quando observarmos o Lídio como protagonista em seu uso nas músicas para filmes em situações de espaço sideral conseguimos identificar que a quarta aumentada do modo tira a expectativa no ouvinte de esperar a resolução na sensível modal como acontece na escala maior, a força "gravitacional" atrativa da quarta justa para terça é evitada pela utilização da quarta aumentada e sendo assim, o modo Lídio nesta situação fílmica é uma iconografia em relação às ausências gravitacionais e a falta de expectativa do desconhecido na imensidão do cosmos.


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