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“Ouvide agora senhores, uma história de pasmar” – A música na “Nau Catrineta” de Almada Negreiros
Cláudia Sofia Pinto Sousa

Última alteração: 2021-04-29

Resumo


A Nau Catrineta é um poema anónimo que se tornou famoso graças à difusão por Almeida Garrett no seu Romanceiro. A lenda retrata a viagem da nau Santo António desde o porto de Olinda até Lisboa em 1565.

Almada Negreiros, artista polivalente do modernismo português, é recomendado por Porfírio Pardal Monteiro para pintar os murais da nova Gare de Lisboa. O arquiteto, seu antigo colaborador em outros trabalhos, tanto em edifícios públicos como na importante revista modernista Orpheu, era o responsável pela construção do edifício. A encomenda consistiu em desenhar a entrada da Gare de Alcântara e, mais tarde, a Gare da Rocha do Conde de Óbidos. Os trípticos, que resultaram desta encomenda, foram reproduzidos pela Manufactura de Tapeçarias de Portalegre após a morte do artista e a Nau Catrineta passou para a parede da Sala Império do Palácio de Belém.

As pinturas que se destinavam a abrilhantar a chegada dos viajantes de primeira classe foram apalavradas com a temática acarinhada pela memória dos Descobrimentos. Sendo um edifício encomendado pelo Estado Novo, o ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco aprova a temática da Nau seguindo a intenção de propaganda nacionalista. No entanto, para Almada, "uma coisa era a encomenda, outra, não forçosamente correspondente, a obra". No último painel destaca-se um cenário de pobreza, algo que não agradou ao encomendador que colocou em hipótese a destruição dos painéis.

Além de explorar a temática do poema, o artista aprofunda a temática acrescentando-lhe elementos musicais. Essas referências são, no entanto, externas ao poema. Será que estes instrumentos nos trazem mais do que o poema nos diz? Almada era por excelência um amante da Obra de Arte Total e neste mural traz-nos a poesia, a pintura, os teatros de sombras e até a banda desenhada. Mas a inserção da música traz-nos algo que não está facilmente visível.

O propósito deste trabalho é indagar quais as motivações para essas inserções externas ao poema e em que medida Almada utilizou essas referências musicais como reflexão sobre o estado do país.


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