Portal de Eventos Científicos em Música, 6º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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A invenção da brasilidade musical: racialização dos aspectos iconográficos da música brasileira.
Jonatha Maximiniano do Carmo, Loque Arcanjo Junior

Última alteração: 2021-04-29

Resumo


Com a transferência da Corte Portuguesa, a fundação da Academia Imperial de Belas Artes e a chegada da Missão Artística Francesa, a partir do início do século XIX houve um aumento significativo de representações imagéticas das práticas sociais, culturais e do modo de vida no Brasil. A iconografia produzida nesse período foi utilizada como fonte de pesquisa pela historiografia musical brasileira, por vezes tratando a transferência da Corte não apenas como o marco de poder, mas principalmente a chegada efetiva de uma civilização ao Novo Mundo e dos supostos elementos responsáveis pela construção de um gosto e de uma estética musicais. Por conta disso, observa-se a (re)produção de traços que expressam estereótipos e perspectivas reducionistas que naturalizaram imaginários pautados pelo posterior nacionalismo e pela visão colonizadora e eurocêntrica de cultura. A necessidade de revisitar criticamente os usos e apropriações dessas imagens nas histórias da música brasileira se dá devido a sua recorrente utilização como ilustração, sem o auxílio de metodologias que possibilitassem o aprofundamento e sua leitura invertida, isto é, se a visão do contexto é racialista, eurocêntrica e colonizadora, essas representações iconográficas oferecem outras possibilidades de percepção da musicalidade e de suas histórias e contextos culturais. Assim, destaca-se o pensar historiográfico da iconografia para um estudo de uma história da música de forma contextual. Entendendo, assim, que parte dessa defasagem metodológica fez parte, por muito tempo, da formação de pesquisadores em música no Brasil, destaca-se que o aprofundamento nas reflexões a respeito da utilização de fontes iconográficas deve levar em consideração uma reformulação da metodologia utilizada, para que se possa intepretar os vários aspectos que as compõem, especialmente no âmbito de seus conceitos e, não obstante, de seus aspectos simbólicos. Desta forma, o presente artigo tem como proposta a observação das apropriações e dos usos das representações imagéticas de práticas musicais de africanos, africanas e seus descendentes produzidas no contexto referido por parte da historiografia musical brasileira, destacando como a construção de sentido dessas imagens e representações iconográficas elaboradas especialmente por viajantes estrangeiros serviram à elaboraçao de um conceito de Novo Mundo musical, por vezes imaginado ou idealizado. Também tem por objetivo concetrar-se no estudo dos sentidos atribuídos às obras de Jean Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas, pretendendo assim, avaliar, a partir de uma perspectiva do estudo iconográfico os diferentes regimes de historicidade presentes nas interpretações realizadas pela historiografia musical brasileira atual. Pretende-se ainda refletir a respeito da forma como essas fontes iconográficas contribuem para a desmistificação de traços na produção musicológica, especialmente aquelas que naturalizam o imaginário da representação de identidades nacionais pautadas pelo nacionalismo e visão eurocentrada.

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