Portal de Eventos Científicos em Música, 5º Congresso Brasileiro de Iconografia Musical

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“Música pós-sonora”: Reflexões epistemológicas sobre iconologia e fato musical a partir da música neoconceitual do Século XXI
Christiane Hauschild

Última alteração: 2020-04-11

Resumo


 

A tarefa da iconografia musical é entendida como estabelecer uma relação interpretativa entre "fontes" visuais e "fatos" da vida musical, e o papel da parte visual como fonte é bem definido. Hoje em dia -- e ainda mais após o advento da imersão constante no espaço virtual -- a relação entre imagem e música mudou-se profundamente. A composição musical, no ambiente digital, vem junto com a construção de um imaginário, ou de fatores visuais. Os compositores divulgam conteúdo visual, junto com a música, comentando e completando as suas obras.  

A comunicação aqui proposta visa traçar as consequências dessa mudança quanto à estética e à relação imagem / música, tomando como base o assim chamado New Conceptualism, ou Neuer Konzeptualismus (neo-conceptualismo), um rumo contemporâneo da neo-vanguarda europeia, que surgiu a partir do ano 2004[1]. A obra de Peter Ablinger, Johannes Kreidler e Anton Wassiljew, por exemplo, é multimedia e intermedia. Na palestra será apresentada a 'noção aumentada da música', introduzida por Johannes Kreidler[2]. Kreidler examina a 'ruptura multimidial' [das multimediale Aufbrechen] da obra musical e designa a "forma aberta, constituída pelo tecido de música, texto, vídeo, performance e comunicação", como "uma peça de música transmídia" [das transmediale Musikstück] ou, simplesmente, "música midiática" [Medienmusik]. Ao contrário de muitos críticos, Kreidler, na extensão midiática da noção da música, não vê uma ameaça à música, mas uma nova constituição dela, na percepção musical.

"Nesse sentido, a multimídia não elimina a música, mas sim, a música é um modo específico de percepção, em face de todos os tipos imagináveis de mídia."[3]

A citação revela uma conceituação de música que se abre para o universo multimídia. No sentido semiótico, o autor determina "o musical" como modo de recepção, independente da base medial, admitindo o elemento não sonoro, na sua constituição. Ao contrário de composições audiovisuais aditivas desde os anos 1950, a música a qual chamamos em seguida música pós-sonora (em analogia ao teatro pós-dramático) admite, na sua ontologia, que o fato básico musical seja constituído de elementos sonoro/ e não sonoros. A estética da música pós-sonora rompe com a tradição ocidental, estabelecida desde a "soundification" da música (Christian Kaden), iniciada durante a Idade Medieval, que atingiu uma nova qualidade durante o iluminismo/racionalismo europeu, e aperfeiçoou-se no estruturalismo do sec. XX (a analogia da análise musical com a linguística), de entender sob o fato básico musical um evento sonoro, "objetivo", como elemento de uma linguagem. Finalizando, a comunicação visa analisar alguns exemplos de compositores alemães e brasileiros, do sec. XXI, e considerar as conclusões, para uma iconologia musical. 


[1]              Veja. Hickel, Jörg Peter ; Utz, Christian (Hrsg.): Lexikon Neue Musik,  Stuttgart: J. B. Metzler  2016, artigo "Konzeptuelle Musik". 

[2]              Kreidler, Johannes. Der erweiterte Musikbegriff. 2014.

[3]              ibid, s. p.

 


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